este post começou com uma provocação: “você fez um monte de coisas neste ano, só não lembra”. dizem que escorpianos têm uma ótima memória, eu queria descobrir quem ficou com a parte que me cabe. então, eu rolei pelas fotos deste ano… como poeta, foi um ano de expansão mundial do meu trabalho, algo jamais sonhado, mas muito querido! muito aceito! 

comecei 2020, graças às deusas, com minhas amigas Heleine Fernandes, Debora do Nascimento, Mirian Santos, Miriam Alves, Valeska Torres e Elizabeth Menezes na Casa das Pretas, no Rio de Janeiro, celebrando os nossos corpos negros nas artes. depois, jantamos e fomos pro samba! ver um evento sobre literatura negra cheio, com o pré-carnaval rolando solto do lado de fora, me mostrou quão necessário é que contemos nossas histórias, que falemos por nós. o pós-evento me fez enxergar muito nitidamente os fios do afeto passando pelo trabalho. que bonito ver mulheres negras juntas, cada uma construindo a sua história junto com a outra, é algo muito precioso. e eu penso muito sobre isso, e desejo isso cada vez mais. foi a melhor abertura do ano e, sem dúvida, me preparou para o que viria depois… estes meses de pandemia! 

como todo mundo sabe, eu tenho um pouco de preguiça da vida pública, mais preguiça ainda quando a vida pública é virtual! rs. então, aproveitei o isolamento, abastecida de afeto, para cuidar da minha projeção para o mundo. 

neste ano, foi publicado na Argentina, Colômbia e Estados Unidos o un cuerpo negro / a black body e eu ainda nem tenho palavras para falar sobre essa emoção! recebi palavras lindíssimas de quem trabalhou nesta edição e de quem participou do lançamento <3 além disso, fui publicada também em uma antologia argentina de poesia negro-brasileira, Quilombo, numa antologia croata de poesia brasileira contemporânea e na antologia brasileira Uma pausa na luta, sobre estes tempos assombrosos, participei do Festival de Poesia de Lisboa e de outros eventos internacionais, e vi “um corpo negro” nascer na sua versão croata! além disso, sigo trabalhando para publicar, em 2021, “um corpo negro” nas versões argentina (de novo!), espanhola, francesa, italiana, franco-italiana e portuguesa! como sempre há espaço na mala para os sonhos, tenho sonhado com um versão alemã! registrando aqui para o universo me ajudar! e a vacina chegar!

como um ano que começa com viagem precisa terminar com viagem, tive a alegria de ser uma das poetas participantes do Viagem Literária e passei por Junqueirópolis, Adamantina, Herculândia e Marília, falando sobre o meu trabalho… deu pra sentir o gostinho da estrada!

apesar de tanto trabalho literário, foi um ano em que escrevi pouquíssimo! uns dez poemas que prestam, mas tive muitas ideias… e me apaixonei, mais ainda, por ver, ouvir, ler… coisas que, realmente, me ajudaram a segurar a barra que é morar no brasil, em 2020, além de estudar (no doutorado, idiomas, fotografia, etc etc). 

em 2020, meu lado “professora” apareceu muito. sinceramente, eu guardei o pouquinho de paciência que eu tenho para as virtualidades para trocar em oficinas e minicursos e cursos. em fevereiro, comecei uma turma do Livrar-se apenas para pessoas negras. o Livrar-se é um grupo de longa duração, voltado a nos colocarmos no mundo como escritores (não “basta” escrever). em março, ministrei no CPF Sesc, o curso Quatro séculos de poetas silenciadas, que eu adoro! e que, posteriormente (setembro), foi ministrado também no Espaço Cult. ainda em março, no final de semana que antecedeu ao distanciamento social, ministrei uma oficina para mulheres, na Biblioteca de São Paulo, para falarmos sobre nós mesmas. e foi incrível! produzimos poemas maravilhosos! em maio, ministrei um módulo no CLIPE Jovem, com a mesma temática, mas ampliando as experiências de gênero. e, além disso, participei do “Cartografias do feminino”, novamente, pensando a poesia a partir dos corpos femininos. durante a pandemia, senti muita vontade de fazer mais por nós, negros, estar junto, então, surgiram as oficinas de escrita poética para negros/as (conheci alguns dos melhores poetas do brasil <3) e o minicurso sobre poesia negro-brasileira! com essas experiências, entendi a importância do aquilombamento… algumas coisas só podem ser compreendidas, mesmo, por quem divide uma existência com a gente. depois, descansei um pouquinho! voltei no CLIPE, ministrando o último módulo, sobre as possibilidades de auto/publicação! por fim, em dezembrão, ministrei o minicurso de poesia negro-brasileira na Biblioteca Mário de Andrade! 

foi um ano lindo de troca! e é assim que eu começo qualquer oficina/curso que ministro: eu tou aqui pra aprender com vocês também, para construir com vocês. e assim é!

por fim, este ano foi também um ano de muita dedicação em realizar um trabalho que amo muito: tradução! tenho cada vez mais me envolvido em projetos de tradução de outras/os autoras/es negras/os e foi tudo sobre isso! 2020 começou com a tradução da Poesia Completa da Maya Angelou e terminou com a tradução de Zami, da Audre Lorde, com muitos poemas de Lucille Clifton, Sonia Sanchez e June Jordan no meio! neste assunto, 2021 vem grandão! 

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